Lembra-te de mim - Capítulo 2.

Lembra-te de mim - Capítulo 2 .

Levanto-me como sempre . Preparo-me lentamente , procurando ofuscar o dia que me segue.
Eu não tenho muita vontade de ir a escola , não é algo que me vá fazer falta . Fazeria sim alguma importância, se a minha vida tivesse outro tipo de destino.
Saio de casa , exausta . Parece que realmente já teria corrido a maratona . Isso deu-me vontade de sorrir . Estava cada vez pior e ninguém notava , ou não queria notar.
Tentei ir o mais devagar possível . Focando os meus pensamentos em objectos banais , como por exemplo , o Semáforo da rua, que ficava 40/50 segundos vermelho . Depois ouvia o barulho dos motores dos carros a arrancarem . A passadeira tinha 8 riscas brancas . E eu passava entre elas .
Devo imaginar o que os condutores pensariam de mim . Era-me indiferente , daqui a uns tempos já não pensariam nada e isso é para mim , pior do que rirem-se do momento actual e das minhas figuras tristes .
Cheguei a escola com uma vontade incontrolável de vir-me embora . virei costas e vim para trás . Andei uns 6 passos, e vi o Miguel Gomes . Ai o Miguel , enlouquece-me.
Deve ser o único motivo pelo qual ainda persisto em vir a escola.
Um dia ganho coragem e beijo-o . Tenho de o fazer rápido , claro.
Toque de entrada . Como ele apareceu e por felicidade minha é da minha turma, decidi voltar ao meu ' inferno ' . Odeio aquele toque. Os meus ouvidos estremecem . É um barulho horrível. Certamente não deve ser assim tão incomodativo , mas para mim tudo é .
Sento-me na minha cadeira. Fria, pálida , estática . Poderia ficar o resto da vida a dar-lhe adjectivos que todos se adequam a ela e ao meu estado de espírito. Onde já se viu caracterizar uma cadeira? Irónico.
Das duas uma . Ou estou completamente desesperada em ocupar o meu cérebro , ou dou importância a coisas mínimas. Pouco me importa.
Estávamos na aula de filosofia. Gosto bastante da matéria que estamos a dar, e interessei-me um bocado. O que não era realmente habitual . Mas o meu cerebro anda muito ocupado , e depressa me distanciei da sala de aula para o meu outro mundo. Posso dizer, que lá é o único lugar no planeta onde não me sinta desvalorizada, ignorada, posta de parte.
Amo lá "viver" , e como não á muito mais a que o meu dia-a-dia tenha acesso, passo lá a maior parte do tempo. Deitada na cama, sentada ao computador , no autocarro, no caminho da escola. Estou sempre por lá. Chamo-lhe paraíso , e não tarda a estar por lá , mas desta vez de corpo e alma .. Até chegar a minha altura , limito-me a estar só presente ,no prefácio do meu futuro mundo.
Vou falar-vos dele , e do meu outro lado, menos pessimista...

- Continua ..